Editorial
Abstract
Neste número da Revista Lumen Veritatis, o leitor encontrará uma ampla gama de artigos sobre temas diversos e enriquecedores. Alguns dizem respeito à atualidade, outros gozam da perenidade das coisas do espírito e do bom sabor da Tradição, base sobre a qual se constroem as verdadeiras Civilizações.
O artigo Magia e razão: pressuposto fundamental para a pastoral no Brasil do séc. XXI, é de autoria do Prof. Roberto Merizalde, EP, filósofo. Reflexiona ele, com base em dados oficiais e na análise de fenômenos comprováveis, sobre o desenvolvimento do ocultismo e das expressões religiosas, filhas de um sincretismo espúrio realizado entre os cultos de origem africana e alguns ritos ou devoções populares cristãs. Ele mostra que o secularismo pós-moderno e a dialética marxista da autodenominada Teologia da Libertação não lograram uma superação de mitos e superstições. Ao contrário, lá onde falta a aliança entre a fé autêntica e a reta razão, proliferam toda sorte de crenças inquietantes e perigosas, com efeitos nocivos para os fiéis, pastoralmente comprováveis. Desse modo, levando-se em conta esses dados e análises, promover-se-á uma ação pastoral eficaz e coerente no Brasil, em particular; e na Igreja, em geral, tendo na aliança harmoniosa entre a Revelação e o intellectus fidei sua força de impacto.
A seguir, o leitor poderá deleitar-se com o artigo: Amar ou odiar os inimigos? O paradoxo do mais dificultoso preceito cristão em três sermões do Padre António Vieira, de autoria do Prof. Felipe Ramos de Azevedo, EP. O tema é apaixonante e o estilo do Pe. António Vieira é claro, subtil e original. Nos sermões do grande orador sacro, comentados no artigo, é abordado o difícil preceito cristão do amor aos inimigos, confrontando-o com outros trechos da Escritura, inclusive dos Evangelhos, em que se manifesta o ódio de Deus aos seus inimigos ou mesmo em que se nos é ordenado odiar os parentes e amigos. No artigo, o Autor tem como finalidade destrinçar essa tríade parenética, analisando cada sermão e cotejando com outros escritos do orador jesuíta, a fim de montar um corpus doutrinário sobre o polêmico assunto em questão. Embora se trate de um objeto típico da ética cristã, o preceito de amar os inimigos se presta a muitos debates, sobretudo se comparado com outros trechos da Escritura, como aquele em que Cristo exorta: “Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). Ora, como Jesus pode mandar amar os inimigos e odiar os próprios pais? Eis apenas um dos paradoxos que o leitor poderá analisar ao longo do artigo.
A nota caracteristicamente tomista deste número da Revista dá-se no artigo:
A Sagacidade Perfeita segundo São Tomás de Aquino, com enfoque na Suma Teológica, II-II, q. 47, a. 13, de autoria conjunta do Prof. Aumir Antonio Scoparin, EP, e do Bacharel em Filosofia João Luis Ribeiro Matos. Assentado na doutrina do Aquinate, o estudo visa esclarecer ao leitor acerca da virtude da sagacidade, componente de outra virtude, a da prudência. Com efeito, São Tomás afirmará que, sem a virtude da sagacidade – a ‘objetividade ante o inesperado’–, não se pode dar a prudência perfeita. Todavia, a motivação da pesquisa é uma pergunta relacionada com a vida de santidade: pode ser alguém bom se não é sagaz? Se é bem verdade que só é sagaz quem é bom, até que ponto podemos dizer que é bom aquele que não é sagaz? Os Autores propõem a existência de uma correlação entre o homem bom e o sagaz, pela qual, assim como é indispensável ser bom para ser sagaz de modo absoluto, também se faz necessária a presença da sagacidade para alcançar a perfeição das virtudes morais.
Para concluir a série de artigos deste número, oferece-se ao leitor uma consideração sobre o Pintor Angélico, de autoria conjunta do Prof. Carlos Javier Werner Benjumea, EP, e do Bacharel em Filosofia João Paulo de Oliveira Bueno. O título do trabalho é sugestivo: Princípios de Estética Tomista na obra Compianto di Cristo Morto do Beato Angélico. Convida-se a observar, na obra pictórica de Frei Giovanni di Fiesole, a subjacência dos princípios estéticos de São Tomás de Aquino. Sem dúvida, é uma Teologia em cores a atividade deste hábil e talentoso pintor, atrativo para especialistas, estudiosos, devotos e turistas. No artigo, visa-se ressaltar as relações do Beato Angélico – expoente do catolicismo no campo artístico do século XV – com São Tomás de Aquino, uma das figuras mais célebres no campo Filosófico-Teológico do século XIII. Para tal intento, os Autores apresentam algumas noções biográficas do pintor italiano, bem como fornecem uma visão geral a respeito de seu local de origem e sua época; ademais, explica-se o modo pelo qual o Beato Angélico chegou a ter contato com o pensamento do Doctor Communis.
Antes da costumeira série de interessantes resenhas, encontramos uma tradução de um dos mestres clássicos da Idade Média: Ricardo de São Vítor. A autoria é de Miguel de Souza Ferrari. Trata-se de uma homilia intitulada De comparatione Christi ad florem et Mariæ ad virgam; em português, Comparação de Cristo com a flor e de Maria com o ramo. Desejamos ao leitor a possibilidade de saborear um texto que contém todos os gostos e perfumes da era das luzes por excelência.
Boa leitura e proveitosa contemplação!